Em minha Árvore Genealógica há um homem chamado Candido Garcia de Vasconcelos, seu nome tem se repetido por gerações da Família Garcia, a começar por minha trisavó Candida Garcia de Vasconcelos, sua filha.
Candido é até hoje alvo de uma polêmica a respeito da preferência política da família ea titudes durante a guerra, amado e idolatrado como herói por uns e odiado por outros, mas como julgar uma situação em que não se viveu?
Ele era um pica-pau ou chimango (Pica-paus eram chamados, durante a Revolução Federalista de 1893 no Rio Grande do Sul, os opositores dos maragatos. Os pica-paus estavam no poder com Júlio de Castilhos e eram centralizadores com forte vínculo com o governo federal. Por razões políticas eclodiu a Revolução Federalista em 1893, em que a reação veio dos chamados maragatos ou federalistas, com visão descentralizadora.
O motivo do apelido veio por três motivos: a cobertura usada pelos militares que apoiavam essa facção, quando estes usavam listras brancas que, segundo os revolucionários, seriam semelhantes a um tipo de pica-pau do Sul do Brasil ; o chapéu usado por eles tinha a ponta fina e comprida, como um bico, com um penacho atrás, o que lembraria a ave e o barulho das suas armas parecia o da bicada de um pica-pau na madeira.)
Candido participou da Revolução Federalista na patente de tenente coronel.
Abaixo um trecho de pesquisa sobre o momento de sua morte:
A Revolução Federalista foi um conflito armado ocorrido no Rio Grande do Sul entre 1893 e 1895. Trata-se de uma disputa política pelo poder do Estado do Rio Grande do Sul e que envolveu dois grupos políticos com ideias e doutrinas políticas diferentes. De um lado, estavam os seguidores de Julio de Castilhos, o qual já desenvolvia sua campanha republicana influenciada pelos ideais positivistas (chimangos). Do outro, aqueles que defendiam os ideais federalistas (maragatos pois usavam um lenço vermelho)e chefiados por Gaspar da Silveira Martins apontado por Sérgio da Costa Franco como um “indivíduo de personalidade dominadora, dotado de respeitável cultura e invulgar inteligência”.
A Revolução Federalista foi um dos episódios mais graves que a recém proclamada República no Brasil teve que enfrentar. Conforme destaca Sandra Pesavento, a guerra foi “caracterizada por atos de violência e bárbarie de ambas as facções, a chamada ‘Revolução da Degola’”(PESAVENTO, 1983: 09).
Já para Cesar Guazzelli, tanto no Rio Grande do Sul como em todo o espaço platino, as guerras se caracterizaram pelo uso de armas brancas que substituíam as escassas peças de artilharia e fazia parte da vida campeira dos peões, que se transformavam em soldados durante os períodos revolucionário.
Bagé sediou o que ficou conhecido como "O cerco de Bagé", entre novembro de 1893 e janeiro de 1894, os republicanos, comandados pelo coronel Carlos Maria Silva Telles, buscaram abrigo na Catedral São Sebastião. Bagé era um alvo importante. Era uma das maiores cidades do Estado, sediava uma importante guarnição militar, tinha ligação por trem com Rio Grande e situava-se em posição estratégica em relação à Campanha e à fronteira. Além disso, era a terra dos Tavares- líderes chimangos e de Silveira Martins- líder maragato, principais lideranças maragatas, que faziam de Bagé um dos centros da conspiração e sede do Partido Federalista, uma das frentes de oposição a Castilhos.
Natural, portanto, que, ao primeiro refluxo dos rebeldes, os republicanos tratassem de assegurar o controle da cidade. Natural, também, que fosse Bagé o primeiro alvo do general Joca Tavares em seu retorno ao campo de batalha, depois de refazer suas forças em território uruguaio.
Ele retorna em novembro de 1893, à frente de quase três mil combatentes. Ataca em duas frentes. De um lado, Zeca Tavares, seu irmão, toma a estação ferroviária de Rio Negro a 20 quilômetros da cidade, guarnecida por 500 soldados comandados pelo general Isidoro Fernandes.
A outra frente cerca a cidade, desde o dia 24 de novembro era possível avistar os piquetes de lanceiros federalistas defendida por pouco mais de mil combatentes, sob as ordens do coronel Carlos Maria da Silva Telles. A população, pouco mais de 20 mil moradores, foge da cidade levando o que é possível.
O coronel Telles se prepara para o pior: requisita a comida disponível no comércio, manda construir trincheiras ao redor da praça e concentra ali a resistência. Nas bocas de rua, arma barreiras com fardos de lã, terra, pedras e paus.
Durante quase um mês, os federalistas mantêm o cerco a distância. Depois apertam. Ocupam chácaras do subúrbio e entram na cidade. Tomam o Teatro 28 de setembro, a Beneficência Italiana, o Mercado Público, os quartéis, a Rua Barão do Rio Branco e a Enfermaria Militar. Em poucos dias toda a cidade é dominada, menos a Praça da Matriz.
Telles dispunha de batalhão e um regimento de Artilharia, uma companhia de engenheiros, um batalhão da Brigada Militar e um corpo de transporte, comandado por Bento Gonçalves da Silva Filho (neto do líder farroupilha).
Tinha também dois corpos provisórios, gente da Guarda Aduaneira e, a partir do momento em que apertou o cerco, um “batalhão republicano” com voluntários civis. O coronel tem ordens expressas de Floriano Peixoto para resistir até o fim.
Corre na cidade sitiada uma notícia apavorante: as forças de Isidoro Fernandes haviam sido massacradas no Rio Negro, com mais de trezentos prisioneiros degolados. Começa a faltar comida; Há deserções, as fugas se dão pela zona sul da praça, onde era mais fácil chegar ao cemitério que ficava a 600 metros. Joca Tavares ordena que o cerco se feche num “cinturão de ferro e fogo”. Quando o sítio completa um mês, Joca Tavares manda propor ao coronel Telles que se entregue sob garantias. O coronel nem discute: “Vocês é quem devem depor as armas, porque estão fora da lei. Garanto a todos a anistia ampla!”.
O natal foi terrível. Atordoada, Bagé enterrava mortos civis atingidos por balas perdidas, chorava as vítimas de violências, saques, incêndios e arrombamentos. Já não havia sequer figos crus e caruru para cozinhar na água e sal. A farinha e as últimas bolachas estavam reservadas para os feridos amontoados na nave central da igreja.
Para aliviar a fome, já se matavam gatos e cães, e o próprio comandante da resistência manda matar seu cavalo para alimentar a tropa. Fome, sede e doenças substituíram a famosa degola na tarefa de abater o inimigo. Quando a situação parecia insuportável, chegam informações de que duas divisões do Exército se aproximam para socorrer Bagé. Com a aproximação dos reforços solicitados pelas tropas castilhanistas, em cinco de janeiro de 1894, Joca Tavares resolveu promover o ataque final. Derrubando muros e perfurando paredes, os maragatos avançaram. Informado da ação, o coronel Carlos Telles antecipou a defesa, colocando abaixo paredes de dois prédios que ainda não haviam sido alcançados pelos rebeldes. O tiroteio foi intenso até que os legalistas dispararam os canhões e uma descarga de granadas contra a linha federalista.
Na noite de sete de janeiro, começa a ser desfeito o cerco, e os federalistas seguem desolados para Santana do Livramento. Antes de o dia raiar, um vulto se aproxima das trincheiras, solitário, e diz aos cansados e famintos soldados: “Bom dia! os revolucionários deixaram a cidade”. Eles haviam resistido 47 dias de cerco. Telles envia um telegrama ao ministro da Guerra: “Tivemos o desprazer de vê-los em debandada e mal montados, sem terem tentado o ataque decisivo pelo qual tanto ansiávamos...”. No seu boletim, registrou 34 mortos (quatro oficiais) e 91 feridos.
O episódio mais marcante ocorrido durante a revolução foi foi à batalha do Rio Negro,no dia 03 de novembro de 1893, feriado municipal hoje em Hulha Negra, local da batalha. Nesta batalha morreram aproximadamente trezentos combatentes, trinta deles degolados. Dentre eles estava o chimango Candido Garcia, cujo sangue corre em minhas veias.
Este fato, a degola, é o que mais tem sido motivo de comentários a respeito deste episódio. Consta que dez mil combatentes, federalistas e republicanos, durante sete dias travaram uma batalha no local.
A Revolução Federalista de 1893 foi um deprimente episódio da história gaúcha, uma conflagração com a finalidade política de acabar com as pretensões monarquistas de retomar o poder num estado em que este sistema de governo tinha a simpatia da maioria da população. Os métodos sangrentos usados tinham o objetivo da intimidação, porém a Degola do Rio Negro, como ficou conhecida, foi uma desforra pessoal entre líderes. Conta a história que invadida a fazenda de Zeca Tavares, um dos líderes vitoriosos da batalha do Rio Negro, por Maneco Pedroso, foi deixada sobre sua cadeira uma cabeça de porco e um bilhete no qual estava escrito: Tua cabeça será minha. Esta a razão da desforra que deu margem à Degola do Rio Negro, às margens da Lagoa da Música. Esta é apenas uma versão dos supostos fatos.
A história relata que uns trezentos republicanos pica-paus foram degolados em suas margens e os maragatos, vencedores, atiraram muitos mortos na lagoa.
Diz a lenda que o último degolado era um rapaz muito, valente como as armas, clarim da força derrotada. Ao ser degolado, ainda correu para lagoa, levando seu clarim - clarim que ele gosta de tocar até hoje, nas noites de lua clara.
Joca Tavares, contando com cerca de 3000 homens, cercou um grupo de 300 chimangos, aproximadamente. Os mesmos são levados para uma mangueira de pedra e ali mantidos como reféns. Surge então, Latorre. Dentre os prisioneiros, estava seu desafeto Maneca Pedroso. A sede de vingança se espalhou a todos os prisioneiros, e, com a ajuda de mais capangas, foi dado início a degola.
Um a um, foram sendo trazidos os prisioneiros e postos de joelho, de costas para Latorre. O mesmo, inicialmente transfixava-lhes o pescoço com um punhal de quinze centímetros. À medida que o tempo passava, já todo banhado de sangue, partiu para a técnica da “criolla”, onde a faca é passada de orelha à orelho, cortando as artérias e garganta, tudo de uma só vez.
Um dos últimos a serem mortos, foi o Cel. Manoel Pedroso. Relatos da época, narram como se deu o último diálogo entre os dois:
“- Cel. Pedroso: Adão, quanto vale a vida de um homem valente e de bem?
- Adão Latorre: De bem… não sei. A vida de um homem vale muito, a tua não vale nada porque está no fio de minha faca e não há dinheiro que pague.
- Cel. Pedroso: Pois então degola “negro filho da puta”. Dito isso segurou-se a um arbusto, levantando a cabeça para facilitar a tarefa ao inimigo.”
Dizem ainda que o Coronel pediu a Adão para que entregasse um anel de seu uso a uma filha residente em Pelotas, segundo informações foi cumprido o feito por Adão Latorre.
O clímax do conflito se deu quando os gasparitas tomaram Santa Catarina e juntaram-se aos insurgentes da Revolta da Armada, que invadiram a cidade de Desterro (hoje Florianópolis). Subseqüentemente apoderam-se do Paraná e de Curitiba, contudo, depois de tanto tempo de luta, estes se encontram desfalcados, calculam as perdas e ganhos que poderiam advir se continuassem com os ataques e decidem recuar, centralizando as forças na região gaúcha. O conflito se estende até o ano de 1895, quando o novo presidente – Prudente de Moraes - celebra uma conciliação de paz.
Júlio de Castilhos retoma o poder perdido - concedido pelo governo -, e o Congresso indulta os co-autores do levante. Assim termina mais um conflito nascido no começo da república.
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